23 de novembro de 2007

Devemos cuidar só do ½ (Meio)?

Por Thiago Sales

É essa expressiva demonstração de ignorância o entendimento que nós temos do meio ambiente

Pasmo quando ouço alguém falar sobre as pérolas de vestibular, ainda mais quando em menção à preservação ambiental o comentário surge de forma tão insensata, como: “não devemos cuidar do meio ambiente apenas. Devemos cuidar dele todo”. É essa expressiva demonstração de ignorância o entendimento que nós temos do meio ambiente. Não me causa espanto saber que no quinto maior país do mundo, cujo território detém tamanha diversidade de fauna, flora e riquíssimas manifestações culturais, ainda existem pessoas com pensamentos tão indissolúveis.
Ora, quando não somos atingidos por desastres ou mesmo notícias desagradáveis sobre crimes ambientais de todas as espécies, nos deparamos com situações de caos, a exemplo da crise aérea, que já se arrasta faz meses. Não se trata apenas de entender que o meio ambiente entrelaça toda e qualquer forma de vida assim como a forma de organização social e os espaços que ocupamos. O meio ambiente, como representação mais forte da natureza e da sua fauna e flora, também se trata de espaços físicos, cujas barreiras vão além da magnitude natural, entrelaçando-se às adaptações que o mundo sofre para criar espaços habitáveis para os seres humanos. Trata-se ainda das relações sociais, harmoniosas e tão necessárias para o convívio coletivo.
Recentemente vivemos a “onda” do aquecimento global. Todos estão preocupados em conscientizar a população mundial sobre os riscos das mudanças climáticas para o nosso planeta. Mas o que fato está sendo feito? O ½ (Meio) defendido por muitos, aqui não se trata apenas da natureza. Interesses políticos dão a voz em meio às conturbadas regressões sociais. Vivemos no caos e nem ao menos nos damos conta disso. Comportamentos atípicos marginais, descaso do estado para com a população que reclama e pede por socorro, corrupção e utilização inadequada da máquina pública se contrastam com a boa receptividade do povo brasileiro.
Diante de tantos fenômenos, tragédias, adaptações da “moderníssima sociedade”, meios políticos e sociais – atuando de forma tão constante e ao mesmo tempo intensivamente prejudicando as nossas vidas – atrevo-me a pensar que o questionamento de cuidados não apenas do ½ (Meio) não é tão ignorante quanto parece.

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